sexta-feira, 16 de abril de 2010

RELATO SOBRE A CENSURA PETISTA

Por Clélio Rabelo


Talvez fosse chegado o momento de se reproduzir o artigo que escrevi quando de minha despedida involuntária do Acre. Nele, condenso a prática nefasta da malfadada democracia que os “petralhas” apregoam. Na ocasião, entretanto, não cheguei a relatar que, à época em que fui coordenador de divulgação do governo, uma das minhas tarefas diárias era ir pessoalmente às redações de todos os jornais locais (Página 20, A Gazeta e A Tribuna) para, literalmente, editá-los.

No primeiro momento, o Rio Branco ainda se postava de oposição. Ou seja: o conteúdo, incluindo títulos, subtítulos, fotos e manchetes eram determinados por mim. Me sentia como um daqueles censores que tantos males trouxeram à democracia brasileira nos anos de chumbo do regime militar, em que pese o contexto político tivesse sido outro, e que obrigavam os grandes jornais e revistas brasileiros a preencher lacunas com receitas de bolos e figuras do “capeta” ou simbologias tais, em substituição a textos vetados. Começariam aí minhas divergências com as práticas nefastas dos petralhas.

Não nos esqueçamos que, quando o PT ainda engatinhava, foram pessoas como eu e outros raros colegas que abríamos espaço na imprensa local para que o partido tivesse um pouco de vez e voz nas emissoras de rádio, TV e jornais acreanos de então. Quem compartilhou comigo as agruras que representou a incursão do Narciso Mendes e asseclas ao jornal O Rio Branco (Romerito Aquino, Chico Araújo e tantos outros), sabe que chegou a ser editada pelos proprietários do jornal uma lista interna com aproximadamente 100 nomes que não poderiam ser divulgados no jornal. Alguns em nenhuma hipótese (caso de Marina Silva dentre eles), e outros apenas em casos circunstanciais. Ainda assim nós furávamos o bloqueio, apesar das broncas e até ameaças de demissão que sofríamos. Quando da campanha de Jorge Viana à prefeitura e, já trabalhando na TV Gazeta, uma das frases que mais ouvia do Roberto Moura era: “Vá fazer campanha para o PT quando você tiver a sua própria TV seu (...)”.

Recordemos ainda que, também antes da assunção ao poder, uma das bandeiras do PT era exatamente a falta de vez e voz na imprensa “burguesa”, o que era o brado retumbante das greves e manifestações que movimentavam as massas que os galgariam ao poder posteriormente.

Ademais, recordar é viver: o primeiro episódio da gestão Jorge Viana, às vésperas da posse, em 1999, foi protagonizado pelo Toinho Alves e o Altino Machado demonstrando, logo no primeiro momento, que comporiam uma equipe coesa: ambos disseram que a imprensa acreana era composta de jornalistas “de merda”. Não sei se teriam confundido a expressão com a sigla SERDA, um órgão do governo estadual que existiu ali na esquina das avenidas Getúlio Vargas e Ceará – bem em frente à antiga sede de O Rio Branco. Tratava-se, na verdade, da imprensa oficial acreana, que foi entregue ao empresário Eli Assem (leia-se A Tribuna) ainda na gestão Edmundo Pinto em condições até hoje não esclarecidas. E lá se vão quase 20 anos que o Diário Oficial do Estado é editado por uma gráfica “particular” – talvez caso único no país. Os demais “diários oficiais” são editados por outras gráficas.

*Clélio Rabelo é jornalista.

ELE FALOU. MELHOR SERIA SE HOUVESSE CALADO

O governador Binho Marques cantou em versos, ontem, o que acha do jornalismo acreano. O soneto ficou ruim. O presidente do Sinjac (Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Acre), Marcos Vicenti, resolveu emendar as palavras do companheiro governador. E a emenda ficou pior.
Marcos decidiu dar uma interpretação pessoal ao que dissera Binho Marques. Só ele achou que as críticas, segundo as quais o jornalismo acreano é uma lástima e se escora na desculpa da falta de liberdade para continuar assim, eram dirigidas aos donos de jornal, e não aos jornalistas.
A falta de discernimento do presidente do Sinjac é reflexo do seu servilismo. O pior é a pantomima de bater nos empresários da comunicação como se isso mostrasse o cumprimento do dever de sindicalista. Mas o patrão é outro, atende pelo nome de Raimundo Angelim e é da mesma turma de Binho Marques.
Com salário na prefeitura petista, fica difícil para o rapaz afrontar os verdadeiros patrões. Isso a gente entende. O que não dá pra entender é a opção pela versão estúpida no lugar do silêncio recomendável.